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A guerra suja contra o amianto
[Artigo publicado originalmente na edição de sábado, 31/05/2014, dos jornais O Estado (São Luís, Maranhão) e Diário da Manhã (Goiânia, Goiás]
Marina
Júlia de Aquino
Presidente do Instituto
Brasileiro do Crisotila (IBC)
Desde que a disputa
pelo mercado de telhas no Brasil se transformou em uma guerra comercial, a
poderosa indústria multinacional de fibras artificiais passou a disseminar a
ideia de que a população corre risco de contrair doenças se adquirir qualquer
produto contendo fibra de amianto, tanto faz se telha ou caixa d’água. Quanto
mais medo, tanto melhor, isto sim se tornou realmente contagioso. E perigoso.
O assunto interessa a
todos, e merece esclarecimentos, diante do seguinte quadro: mais de 25 milhões
de residências no Brasil estão cobertas com telhas de fibrocimento com amianto.
Isto basta para explicar o apetite da concorrência internacional por essa fatia
do mercado. Mas não justifica os métodos para obtê-la.
Preocupado com o
assunto, o Supremo Tribunal Federal (STF) reuniu há pouco mais de um ano cientistas
e especialistas do mundo inteiro para uma audiência pública. Nela, foram apresentados,
com toda liberdade, argumentos prós e contra o produto. No final, restou claro que o Brasil está no
rumo certo ao permitir, na forma da lei, o uso do amianto crisotila na
indústria, e que não se pode trocar o certo pelo duvidoso, como bem fundamentou
o ministro Marco Aurélio ao proferir seu voto.
Não há registro, no
mundo inteiro, de pessoa contrair doença por usar produtos com amianto,
inclusive caixas d’água. E a despeito do que erradamente se apregoa, o amianto
crisotila é um produto natural, presente em dois terços da crosta terrestre,
nos leitos dos rios, riachos, lençóis freáticos e até no ar que respiramos.
Como se não bastasse, o
nosso país possui a mais rigorosa legislação de que se tem notícia sobre uso,
controle e transporte de amianto crisotila. Os problemas que existiam
correspondem ao passado, quando muitos países adotaram uso do amianto tipo
anfibólio, uma variedade mais resistente e prejudicial à saúde humana. A Europa,
por exemplo, não só usou, como também exportou esse tipo, expondo milhares de
trabalhadores às fibras nocivas até se dar conta do problema.
A produção brasileira atual
é exclusivamente de amianto tipo crisotila, dentro de controles que superam até
mesmo as exigências da Lei, provando que existe, sim, limite seguro, graças ao
desenvolvimento de técnicas que tornaram-se referência mundial, não por menos
integrando o Pacto Global, da ONU, de comprometimento com o bem-estar do
planeta.
Já com relação às
fibras artificiais conhecidas pelas siglas PP e PVA, sabe-se, de saída, que sendo
derivadas de petróleo, são poluentes, levando a Organização Mundial de Saúde
(OMS) afirmar, publicamente, que elas oferecem risco indeterminado, ou seja,
chegam a ser piores, à saúde humana.
Mesmo assim, numa
típica propaganda enganosa, vendem-se esses produtos como “ecológicos” e
“recicláveis”. É o mesmo que dizer que saco plástico faz bem à natureza. Como
todos sabem, um saquinho esquecido no chão demora até 450 anos sem se decompor.
Já um pedaço de borracha fica por tempo indeterminado. Tenha paciência, a
natureza não faz mágica.
Outra falácia é a de que
o amianto já foi proibido em “mais de 50 países”, sem informar que a proibição
se deu onde o amianto do tipo anfibólio foi usado sem qualquer controle, e que outros
150 adotam o tipo crisotila sem maiores problemas, inclusive as nações mais
desenvolvidas do mundo, como os Estados Unidos, o Canadá e a Alemanha.
Sobre os impactos de
uma proibição, é preciso levar em conta, em primeiro lugar, as populações de
baixa renda, que serão obrigadas a adquirir um produto caro e de baixa
qualidade. Segundo, a indústria, que será submetida a uma dependência sem
precedentes de resinas plásticas derivadas de petróleo manipuladas por empresas
estrangeiras, como demonstrou estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Terceiro, de ordem socioeconômica, vai afetar uma rede que emprega mais de 170
mil pessoas.
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