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Vergonha: premiação de procuradores é alvo de críticas
Aos poucos, as reais
intenções dos adversários do amianto mundo afora começam a ser reveladas pela
própria imprensa. Não bastassem as denúncias que jornais americanos fizeram
recentemente contra um grupo que fraudava atestados de supostas vítimas de
amianto para obter indenizações milionárias, desta vez a imprensa brasileira
questionou a premiação de procuradores do Ministério Público do Trabalho por
uma entidade privada dos Estados Unidos que é patrocinada por grandes bancas de
advogados.
A matéria incomodou
bastante o MPT, que enviou nota oficial ao site Consultor Jurídico tentando
justificar a premiação com argumentos que foram prontamente rebatidos em outra
nota do Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC). Leia a matéria com atenção, e, logo em
seguida, a nota do IBC. Nada mais precisa ser explicado.
JANTAR
DO BILHÃO
Brasileiros
que combatem amianto são premiados por escritórios americanos
27 de abril de 2015
Por Márcio Chaer
Um jantar de gala
oferecido no último dia 18 por uma entidade privada americana no luxuoso hotel
Crystal Gateway Marriot, em Washington (EUA), serviu de palco para homenagear
três servidores públicos brasileiros: o procurador-geral do trabalho, Luís Antonio
Camargo de Melo, e seus colegas Marcia Kamei Lopez Aliaga e Philippe Gomes
Jardim. Eles receberam o troféu “Tributo Inspiração”, por sua atuação contra o
uso do amianto no Brasil, concedido pela Asbestos Disease Awareness
Organization, conhecida pela sigla Adao. O cenário reúne quase todos os
ingredientes para orgulhar o país do futebol. Não fosse a suspeita de que a
causa, em vez de nobre, é lucrativa.
A premiação fez parte
da 11ª Conferência Anual Internacional do Amianto, que reúne grandes
escritórios de advocacia e ativistas ligados a movimentos pró-banimento do
amianto ao redor do mundo. Em edições anteriores, outros brasileiros foram
homenageados, como a auditora do trabalho atualmente aposentada Fernanda
Giannasi. Desta vez, a premiação coincide com a ofensiva do Ministério Público
do Trabalho em alguns estados, como Paraná e Santa Catarina, contra lojistas e
revendedores para acabar com as vendas de telhas de fibrocimento com amianto,
sob pena de retaliações judiciais.
Chefe da Coordenadoria
Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho, Philippe Jardim revelou
durante o jantar que a estratégia do MPT consiste, atualmente, em “estimular a
edição de mais leis estaduais e municipais proibindo o uso da fibra”, e,
também, “buscar responsabilizar judicialmente empresas que já produziram e
ainda produzem passivos sociais pelo uso do amianto.”
Ao mesmo tempo, há
outra ofensiva em andamento, esta empresarial, de tornar a marca francesa Saint
Gobain mais conhecida no mercado brasileiro. A empresa estrangeira tenta ganhar
espaço para a venda de suas telhas de fibras sintéticas. “Vamos gastar um
caminhão de dinheiro” nesse objetivo, disse à revista Época Negócios o
presidente da Saint Gobain, Thierry Fournier. Como o banimento do amianto é
parte essencial dessa estratégia, na mesma entrevista Fournier deixou escapar o
que parece ser o curso a ser tomado pelo seu “caminhão” ao declarar: “Temos um
trabalho forte sendo feito em Brasília, nas comissões”. Contudo, ele não
explica o que vem a ser “um trabalho muito forte”, nem revela que “comissões”
seriam essas.
Por fim, tudo isso
ocorre em meio à real possibilidade de o Supremo Tribunal Federal julgar ao
menos uma das sete ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) questionando
leis estaduais que proíbem o uso do amianto. Trata-se do momento mais aguardado
por alguns dos maiores escritórios de advocacia que já faturaram bilhões de
dólares com ações movidas ao redor do mundo de indenizações por danos que
teriam sido causados pelo amianto. O que vier a ser decidido no Brasil,
terceiro maior produtor de amianto do mundo, terá reflexos jurídicos não só na
América Latina, como na produção global de telhas.
As cortes superiores,
na Europa, já começaram a barrar tentativas de organizações, advogados, médicos
e seguradoras que dizem defender "vítimas do amianto". O Judiciário
europeu passou a olhar com desconfiança acusações feitas sem provas ou
embasamento científico. Duas decisões recentes dão essa indicação. Na
Inglaterra, o Supremo Tribunal do Reino Unido anulou um projeto de lei
apresentado na Assembleia do País de Gales que previa sanções para seguradoras
e empresas do setor. Na França, o Tribunal de Cassação confirmou a anulação de
acusações de um grupo de ativistas contra a deputada Martine Aubry e outras
sete pessoas, que defenderam por anos o uso do amianto. Nesse mesmo contexto, a
Comissão Europeia se posicionou sobre o uso do amianto e rejeitou o pedido em
favor de uma campanha de banimento do amianto da Europa.
Fraude
No evento do dia 18,
além dos brasileiros, foram homenageados também pela Adao escritórios de
advocacia especializados no assunto, e que patrocinam a entidade, como o Simon
Greenstone Panatier Bartlett. O escritório ganhou notoriedade em dezembro de
2014, quando o jornal The Wall Street Journal revelou uma série de fraudes nas
ações de indenização nos EUA e o atingiu em cheio. Segundo a publicação, o
principal patrocinador da Conferência da Adao 2015 usava a mesma “vítima” para
processar diferentes empresas e fundos por causa da exposição ao amianto. Os
advogados afirmavam que a vítima havia sido exposta ao asbesto e somente
trabalhou na empresa “A”. Quando ganhavam a causa, os advogados abriam outra
ação contra a empresa “B” e afirmavam novamente que a vítima trabalhou
exclusivamente na empresa “B”, não sendo exposta ao amianto em nenhuma outra
empresa. O caso foi chamado de “A Fraude da Dobradinha”.
Um dos juízes da corte
americana descobriu o golpe ao comparar os processos de indenização e verificar
que a mesma pessoa havia sido foi exposta ao asbesto em dezenas de empresas,
mas que nas reclamações de indenização sempre afirmava que havia trabalhado a
vida inteira em uma única empresa.
Em janeiro de 2015, foi
a vez do jornal The New York Times revelar um esquema de corrupção envolvendo
políticos, médicos e advogados. Antes de ser descoberto nas fraudes, o
ex-presidente da Assembleia Legislativa de Nova York, Sheldon Silver, fazia
parte do grupo mais poderoso do Estado. Esse grupo era chamado carinhosamente
de “three men in a room” (três homens em uma sala). Os três eram: ele, o
governador de Nova York e o líder da maioria no Senado estadual. Silver foi
preso e afastado do cargo por montar um esquema milionário de corrupção,
associado à indústria de ações de indenização contra fabricantes de produtos
com amianto.
Silver foi denunciado
por coletar mais de US$ 6 milhões em comissões pagas pela banca Weitz &
Luxenberg e, principalmente, por destinar verbas de fundos públicos a pesquisas
do médico Robert Taub, dentro do esquema de corrupção. Até então, Taub era o
mais prestigiado e respeitado pesquisador do mesotelioma — uma doença que pode
ser causada pelo mau uso do amianto. Ele também recebia propinas do escritório
de advocacia, negociadas por Silver, segundo o The New York Times.
Nos Estados Unidos,
escritórios de advocacia especializados em ações trabalhistas de indenização
para doentes por exposição ao amianto costumam ser generosos com a Adao, que é
presidida por Linda Reinstein, uma conhecida ativista ligada diretamente ao
movimento internacional pelo banimento do amianto. O mais destacado desses
escritórios tem sede nos EUA e pertence a Steve Kazan, irmão da principal
ativista no mundo, Laurie Kazan. Ela é presidente do IBAS Secretariat, a ONG
coordenadora do movimento mundial para banimento do amianto, baseada no Reino
Unido e que congrega outras entidades similares. Estima-se que somente o
escritório de Steve Kazan já recebeu bilhões de dólares em processos de
indenização de vítimas do amianto nos EUA.
Em 2012, Linda
Reinstein esteve no Brasil participando de um evento pró-banimento do amianto
dentro da conferência Rio +20. Ela aproveitou e visitou a fábrica da Brasilit,
pertencente à Saint Gobain, a empresa francesa que promete gastar “um caminhão
de dinheiro” no Brasil e que produz fibras alternativas ao amianto.
No jantar de gala do
último dia 18, Linda entregou pessoalmente o troféu ao procurador Luís Camargo,
que subiu ao palco juntamente com Fernanda Giannasi, a auditora do trabalho
que, depois de se aposentar, assumiu o cargo de consultora do escritório de advocacia
Alino & Roberto Advogados, com sede em Brasília — não por acaso, o
escritório que reúne o maior número de ações contra o amianto no Brasil.
Agora,
a nota do IBC:
GUERRA
DO AMIANTO
Instituto rebate nota
do MPT e fala em contaminação comercial
29 de abril de 2015
O Ministério Público do
Trabalho interfere em disputa comercial para favorecer um grupo privado em
detrimento de outro, alegando uma inexistente luta do bem contra o mal. Essa é,
em linhas gerais, a tréplica apresentada pelo Instituto Brasileiro do Crisotila
(IBC) em resposta à nota de contestação do MPT contra reportagem publicada
neste site, intitulada “Brasileiros que combatem amianto são premiados por
escritórios americanos”.
A guerra do amianto é
travada em primeiro plano por fabricantes de telhas: os que usam amianto e se
gabam de vender produtos que duram mais são melhores e mais baratos; e os que
não usam, ficam só com 20% do mercado e fazem campanha para proibição do
amianto. Nesse torneio, diz o IBC, o MPT atua como linha auxiliar do maior
fabricante de produtos de fibrocimento, a Saint Gobain.
Leia a nota do IBC:
O Instituto Brasileiro
do Crisotila (IBC) vê com preocupação o Ministério Público do Trabalho (MPT),
em nota oficial enviada a esse veículo de comunicação, insistir em disseminar
informações que já se comprovaram equivocadas acerca do uso do amianto
crisotila no Brasil, com isso buscando confundir a opinião pública e
desqualificar os avanços que têm sido registrados em prol da saúde dos
trabalhadores deste segmento produtivo.
Observa-se, nesse caso,
que o MPT, contrariando suas funções institucionais, avoca os mais variados
dispositivos para proibir a revenda de produtos com amianto crisotila no
comércio, interditar máquinas e, até, fechar estabelecimentos, alguns dos quais
conseguem manter suas atividades ao custo de liminares judiciais. Desnecessário
dizer da insegurança que essa situação provoca.
Cria-se, com isso, um
verdadeiro terrorismo de Estado, sob o falso pretexto de “proteger” a
sociedade, sem levar em conta não apenas a importância desse setor da economia,
como também os avanços na segurança e os estudos mais atualizados que atestam a
inexistência de casos de adoecimento de trabalhadores em toda a cadeia
produtiva do amianto crisotila no Brasil.
Importante lembrar que
o uso do amianto crisotila é regulado por legislação federal (Lei nº 9.055/95),
que compreende a extração, a industrialização e transporte, sendo, pois, uma
atividade lícita. Mais adequado, portanto, seria o MPT, como fiscal da lei, dar
exemplo à sociedade, em vez de levar para dentro da instituição uma disputa
comercial que tem como leito natural o mercado.
Outra falácia é a de
que o amianto foi proibido em “66 países”, sem informar que a proibição se deu
onde o amianto do tipo anfibólio era usado sem qualquer controle, e que outros
150 países adotam o tipo crisotila sem maiores problemas, inclusive as nações
mais desenvolvidas do mundo, como os Estados Unidos, o Canadá, a China e,
também, Alemanha.
A produção brasileira é
exclusivamente do amianto crisotila, dentro de controles que superam até mesmo
as exigências da Lei, provando que existe limite seguro, graças ao
desenvolvimento de técnicas que se tornaram referência mundial. Claro que o seu
uso requer cuidados, assim como centenas de outros produtos relacionados com o
nosso dia a dia. Contudo, para dar mais tranquilidade, a Organização Mundial da
Saúde (OMS) reconheceu que não existe evidência científica de risco à saúde
mesmo se fibras de amianto crisotila forem por acaso ingeridas através da água
potável. Tampouco pelo contato com o produto.
Por fim, o IBC
manifesta estranheza diante da naturalidade com que o MPT comemora um “prêmio”
concedido por uma entidade reconhecidamente financiada por empresas privadas
concorrentes daquelas que, com segurança, usam o amianto crisotila como
matéria-prima de uma variedade de produtos.
Atenciosamente,
Marina Júlia de Aquino
Presidente do Instituto
Brasileiro do Crisotila (IBC)
Goiânia, 29 de abril de
2015
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