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A guerra do amianto e sua proibição
Por John Bridle
[artigo do pesquisador
John Bridle publicado em 1º de setembro
na revista espanhola de economia Capital - confira aqui o original em espanhol]
O debate em curso na Europa sobre a proibição de produtos que
tenham amianto em sua composição é motivado por interesses econômicos. Além
disso, a discussão desconsidera as diferenças entre os tipos de amianto: o crisotila
e o anfibólio.
O Asbestos Watchdog do Reino Unidos [NdT: organização fundada pelo autor do artigo para a divulgação de informações
cientificamente embasadas sobre o tema do amianto] aposta no uso do
primeiro tipo, melhor conhecido como amianto branco. E assim procede por considerá-lo um produto
econômico, que não apresenta os riscos à saúde decorrentes do uso do anfibólio.
Desta forma, a seu ver, a política adotada pela União Europeia sobre o tema se
baseia em uma opinião espalhafatosa que ignora a ciência, tomando como
referência tão somente o interesse econômico dos construtores, fabricantes de
fibras alternativas, e as desonestas reivindicações judiciais promovidas por
advogados que atuam no milionário nicho das indenizações.
O amianto é um dos assuntos mais mal
compreendidos e de maior carga emotiva. Além da ignorância acerca dos riscos relacionados à saúde,
existe uma grande fraude patrocinada por interesses escusos, o que resulta em
prejuízo para aqueles que foram verdadeiramente afetados pelas doenças
relacionadas ao mineral, ao passo que estes deixam de ganhar indenizações.
É preciso deixar claro que
não existe uma material chamado amianto. Trata-se de uma terminologia comercial para
uma grande variedade de minerais fibrosos. [Imagine: o chumbo e o mercúrio são
metais tóxicos, mas ninguém acredita que o aço também o seja apenas pelo
fato de ser um metal]. O debate, como referido, gira em torno do ‘amianto
branco’, que corresponde a 90 % do tipo de amianto presente na construção
civil. Pelo que se pode comprovar, são sólidas as evidências de que os riscos
deste tipo de mineral foram exagerados e distorcidos com a finalidade comercial
de favorecer um lobby que não tem como prioridade a saúde dos trabalhadores.
Isso é algo fácil de comprovar porque o crisotila é um mineral totalmente
distinto das demais fibras de amianto.
Estamos falando de um produto
responsável pelo desenvolvimento e a melhoria de vida de milhões de pessoas
durante décadas. Seu emprego imprudente no passado provocou doenças, não
piores que aquelas causadas por qualquer outro mineral que não foi extraído
dentro de padrões de controle que vigoram há mais de 50 anos. O carvão é um
bom exemplo, uma vez que provocou mais doenças do que o amianto branco, embora
ninguém considere sua proibição. Por conseguinte, inexistem, no presente,
doenças decorrentes do uso do amianto crisotila.
O crisotila tem uma natureza química e uma afinidade estrutural
com o cimento, o que faz do chamado fibrocimento um material seguro, econômico
e durável.
Todos estes argumentos estão apoiados em
um artigo publicado em 1996 pelo governo do Reino Unido, revisado por
cientistas e
apresentado na conferência da OMS, em Genebra, naquele ano. Trata-se do chamado
Informe Meldrum sobre a Toxicologia das
Fibras. O texto deixa claro que o crisotila não é a causa do mesotelioma, a
principal doença decorrente do uso do amianto, e, dessa forma, o fibrocimento NÃO
traz riscos mensuráveis à saúde. Um ano mais tarde, em 1997, o Secretariado
da International Ban Asbestos (IBAS) garantiu a representantes da EU e do Reino
Unido que o fibrocimento mataria 105 000 trabalhadores por ano. Desde 1996,
contudo, inúmeros outros artigos independentes reiteraram os resultados do
Informe Meldrum.
Um bom indicador das fraudes produzidas em torno do tema é se
questionar porque um lobby potente e com
interesses amplos gasta parte de seus fundos na campanha pela proibição do
amianto na União Europeia ou em qualquer país disposto a comprar seus
argumentos desencontrados. É necessário
ainda esclarecer porque as ações judiciais movidas por advogados americanos
financiam o IBAS. O objetivo da iniciativa do IBAS, em 2013, de propor a
remoção, nos limites da EU, do amianto presente em todo tipo de construção prejudicaria
economicamente milhares de empresas e proprietários de edifícios comerciais. No
entanto, a mesma iniciativa seria massivamente benéfica àqueles que apoiam sua
proibição [fundamentalmente empreiteiros e fabricantes de fibras alternativas].
Também permitiria que as ações indenizatórias se estendessem a qualquer um que
ALGUMA VEZ tenha tido contato com qualquer tipo de amianto.
Felizmente, o pleito do IBAS foi rejeitado com base na contestação apresentada pelo Watchdog Asbestos ao Parlamento da União Europeia. Em junho deste ano, a proposta de resolução foi negada.
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