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Folha Online: De que é feito o telhado brasileiro?
A Folha Online publicou nesta sexta-feira (21/02), artigo da presidente do IBC, Marina Júlia de Aquino, acerca do debate jurídico sobre se é possível aos estados impor restrições ao uso do amianto passando por cima de uma lei federal - a Lei 9.055/95, que trata do uso do amianto no Brasil.
A executiva também fala da importância do mineral para a economia brasileira e discorre sobre as incertezas envolvendo as fibras de PP e PVA, que vêm sendo vendidas como "substitutos seguros ao amianto". Marina expõe no artigo que "não há provas científicas de que as fibras alternativas são mais seguras, ou pelo menos tão seguras quanto o crisotila".
Leia abaixo o artigo conforme publicado.
Clique aqui para ler o conteúdo no portal Folha Online.
Marina Júlia de Aquino: De que é feito o telhado brasileiro?
Desde que se instaurou
o debate jurídico sobre se é possível aos estados impor restrições ao uso do
amianto passando por cima de uma Lei federal (nº 9055/95) que já define como e
de que forma esse produto pode ser extraído, transportado e industrializado, o
assunto perdeu muito no que de fato interessa ao país e à sociedade. Se o
amianto for proibido, o que vem no seu lugar na fabricação de telhas e caixas
d’água?
A pergunta é relevante à
luz de um dado importante: mais da metade dos lares brasileiros recebe telhados
de fibrocimento, sendo que em torno de 80% são de amianto. Fibrocimento é o
nome que se dá à mistura da fibra, seja ela de amianto ou não, ao cimento,
celulose e outros materiais para fabricação de telhas onduladas cujo consumo
atual é de aproximadamente 250 milhões de metros cúbicos por ano.
Os professores Holmer
Savastano Jr. e Vanderley M. John, da Universidade de São Paulo (USP), que por
mais de vinte anos pesquisam materiais capazes de substituir o amianto, foram
ao âmago dessa questão em recente trabalho publicado por esta Folha, à margem das polêmicas discussões
em torno dos eventuais danos que o amianto possa oferecer à saúde humana.
Hoje, o discurso fácil
de substituir o amianto por fibras de resinas plásticas derivadas do petróleo —
o polivinil álcool (PVA) e o polipropileno (PP) —, conforme concluíram os
pesquisadores, não resiste à realidade do mercado, levando o Brasil a uma situação
de dependência e escassez com sérias repercussões para a construção civil. Sem
histerismos nem catastrofismos. O dado é real: no caso do PVA, a produção está
inteiramente concentrada na China e Japão, que além de serem grandes
consumidores trabalham no limite de 70 mil toneladas/ano. No caso de PP, a
produção é de menos de 10 mil toneladas/ano. Para substituir o amianto, o
Brasil precisa nada menos do que 40 mil toneladas/ano dessas fibras — vale
dizer, metade da produção mundial. “Não existe capacidade instalada em nível
mundial para atender eventual demanda brasileira de fibras de forma imediata”, assinalaram
os professores.
As conclusões confirmam
outro estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas, que chamou atenção para o
fato de uma única empresa no mundo dominar a tecnologia de produção de fibras
de PP, o que representaria um risco potencialmente maior de dependência
externa. Na prática, expondo os nossos telhados às intempéries do mercado
externo, num salve-se quem puder cuja conta será repassada ao consumidor de
baixa renda. Não é justo.
Em números gerais, a cadeia
de produção de amianto crisotila em nosso país, que compreende mineração,
indústria e fornecedores, é responsável por 170 mil empregos, movimenta mais de
R$ 2,6 bilhões e injeta algo em torno de R$ 1,16 bilhão ao Produto Interno
Bruto (PIB). No comércio, sobretudo, é que se percebe a importância dos
produtos de fibrocimento com amianto para a geração de emprego e renda: eles
representaram mais de R$ 1,1 bilhão das vendas no período estudado cinco anos
atrás. O valor precisa ser atualizado para um patamar maior.
Por fim, cabe ressaltar
que não há registro, no mundo inteiro, de pessoa contrair doença por usar
produtos de fibrocimento com amianto, inclusive caixas d’água. E a despeito do
que erradamente se apregoa, o amianto crisotila é um produto natural, presente
em dois terços da crosta terrestre, nos leitos dos rios, riachos, lençóis
freáticos e até no ar que respiramos. Por esta razão, é imprescindível separar
o joio do trigo e tratar a questão da forma racional como se deve.
Índice
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